Criptos mantêm ganhos de ontem após declarações de Joe Biden, mas analistas também apontam que retomada tem razões específicas da classe de ativos.
O mercado de criptomoedas estabiliza e mantém os ganhos de ontem após recuperação em V iniciada logo após declarações do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em tom que não indicava disposição a retaliar os ataques da Rússia à Ucrânia.
Após o Bitcoin (BTC) abrir caminho para a recuperação com um salto de 9,1%, para US$ 38.701, o Ethereum (ETH) tem melhor desempenho neste começo de manhã e avança 10,3%, para US$ 2.624, considerando a cotação das últimas 24 horas.
Em sentido contrário ao que ocorreu ontem, o mercado de derivativos viu uma onda de liquidações em contas de traders que apostavam em um recuo mais agudo de preços. Segundo dados da ferramenta Coinglass, posições vendidas em Bitcoin, Ethereum e outras criptos resultaram em prejuízo de US$ 143 milhões quando as perdas foram zeradas.
Como resultado, os ativos retomaram o mesmo patamar de preço do dia anterior aos ataques, dando dose extra de otimismo para investidores.
Segundo Alex Buelau, cofundador e CTO da fintech cripto Parfin, o movimento de ontem segue uma tendência histórica em momentos de crise, quando a queda mais acentuada ocorre, em geral, no dia da eclosão. Embora recomende cautela, o especialista afirma que os cerca de US$ 34.300 do BTC e US$ 2.300 do ETH podem ter sido os fundos de mercado se o cenário de conflito não escalar ainda mais.
João Canhada, CEO da Foxbit, lamenta que a guerra tenha iniciado e também recomenda calma para investidores, mas relembra que, historicamente, os melhores momentos para os mercados no longo prazo é “justamente comprar ao sons dos canhões e vender ao som dos violinos”.
“Os volumes de opções apontam para a probabilidade de muitos investidores manterem posições compradas enquanto protegem o risco com derivativos”, escreveu Sean Farrell, chefe de estratégia de ativos digitais da FundStrat, em e-mail ao CoinDesk.
“Consistente com a semana passada, achamos prudente manter posições compradas com horizontes de tempo além de seis meses e estar preparado para comprar em quedas”, escreveu Farrell.
E, do ponto de vista técnico, há sinais iniciais nos gráficos de exaustão negativa, que normalmente precedem as altas de preço de curto prazo.
Katie Stockton, sócia-gerente da Fairlead Strategies, também notou um sinal de curto prazo positivo para o BTC. “Esperamos que isso permita que o Bitcoin evite um colapso confirmado”, afirmou Katie ao CoinDesk.
Segundo ela, a atual queda no BTC pode se esgotar hoje e dar lugar a duas semanas de estabilização. No entanto, o cenário seria invalidado por uma uma queda abaixo de US$ 37.361.
Além de acompanhar a melhoria do ânimo nas bolsas mundiais, analistas apontam que a recuperação do Bitcoin e demais criptomoedas ocorre também por fatores particulares desta classe de ativos.
“Apesar dos últimos movimentos, o Bitcoin ainda mantém uma certa descorrelação. Por conta da política monetária imutável do ativo, se houver uma espiral inflacionária generalizada, o Bitcoin será pouco afetado”, avalia Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, em nota.
“A crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus mostrou que a descorrelação fica mais evidente depois que a crise passa, uma vez que a recuperação do bitcoin é muito mais rápida que a dos outros ativos”, pontua.
Há ainda expectativa de que o Bitcoin exerça um papel de alternativa de pagamentos e transações em dos dois lados da guerra. Segundo dados da consultoria Tripple A, os países envolvidos no conflito são os que têm o maior percentual de habitantes que utilizam criptomoedas: Ucrânia em primeiro, com 12,73% da população, seguida dos russos, com 11,91% de residentes que usam Bitcoin e outras criptos.
De um lado, especula-se que as criptomoedas poderiam servir de refúgio para os russos driblarem sanções contra o país. “A Rússia é responsável por cerca de 11,2% de mineração global do Bitcoin, com mais de US$ 5 bilhões em transações de criptomoedas realizadas todos os anos, de acordo com um relatório do Banco Central”, aponta a especialista em criptomoedas Taynaah Reis, fundadora da startup Moeda Seeds Bank.
Ao mesmo tempo, ucranianos teriam nos ativos digitais um meio de contornar o bloqueio de saques em meio a uma corrida bancária no país. A stablecoin Tether (UST) é negociada na Ucrânia acima do preço usual de US$ 1 pela alta demanda. O preço chegou a bater a US$ 1,10 por USDT.
Além disso, doações em Bitcoin a grupos armados pró-Ucrânia vêm crescendo em meio à guerra. Segundo dados da casa de análise Elliptic, os repasses em BTC chegaram a US$ 400 mil em uma janela de apenas 12 horas ontem.
Fonte: InfoMoney
Comments